Aprisionar o Palácio Capanema é aprisionar o sonho de um Brasil independente e para todos

Em 1936, uma equipe de arquitetos liderada por Lucio Costa projetou no Rio de Janeiro o primeiro arranha-céu modernista construído no mundo: o Ministério da Educação e Saúde Pública, encomendado por Gustavo Capanema. O “risco original de Le Corbusier” para a obra fora em muito alterado pela equipe brasileira, composta ainda por ninguém menos que Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos. A principal invenção era o chão da quadra completamente aberto, o grande bloco elevado sobre um pilotis colossal, produzindo uma urbanidade única: um híbrido entre espaço público e privado, um símbolo de progressismo (em pleno Estado Novo), um modelo em todos os sentidos, globalmente reproduzido.

A abertura e generosidade do hoje chamado Palácio Gustavo Capanema é parte do seu caráter. Era a esperança de que a industrialização traria independência econômica e cultural a todos, indistintamente, para além das oligarquias. É parte da configuração reconhecida mundialmente como Patrimônio Cultural. É parte de um grito de autodeterminação do povo brasileiro, que reverbera por décadas, e agora tentam sufocar. É o edifício-praça que acolhe o cidadão em seu cotidiano, que dá lugar a blocos carnavalescos populares, que abrigou o OcupaMinc na capital fluminense: um dos principais focos de resistência democrática ao gabinete conservador, misógino, racista, elitista, entreguista e opressor que se apossou do poder em nosso país por meio de um golpe de estado em 2016.

Hoje, após uma brutal desocupação sem diálogo, a praça do Palácio Capanema foi cercada por um muro de aço e arame farpado. O pretexto era, ironicamente, a continuidade das obras de restauro do edifício. É na verdade um ato de desespero opressivo do gabinete golpista. É sinal inequívoco das reais intenções dessa caterva, cega pelo seu desejo de coagir, explorar, excluir.

Aprisionar o edifício neste momento é aprisionar o sonho de uma nação para todos.
O povo do Rio de Janeiro e de todo o Brasil saberá entender esta agressão e reagirá.
Golpistas, não governarão!


Frente Ampla de Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia

25 de julho de 2016.

[Texto atualizado pela última vez à 0h55min de 26/7/2016].