Manifesto de apoio à Universidade de Brasília e a Luís Felipe Miguel

Por meio deste manifesto, a Frente Ampla de Trabalhadores e Trabalhadoras do Serviço Público pela Democracia expressa veemente repúdio à atitude censora do ministro da educação José Mendonça Filho que, conforme veiculado na imprensa, pretende “acionar a AGU (Advocacia-Geral da União), CGU (Controladoria-Geral da União), TCU (Tribunal de Contas da União) e MPF (Ministério Público Federal) para apurar se há algum ato de improbidade administrativa ou prejuízo aos cofres públicos pelo oferecimento da disciplina” optativa O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil ofertada pelo Ipol/UnB (Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília), ministrada pelo professor doutor Luís Felipe Miguel.

Não nos curvaremos. Não baixaremos a cabeça. Ombreamos com o Professor Luís Felipe Miguel, que conta com nosso apoio e solidariedade neste momento em que a autonomia universitária encontra-se ameaçada. Que estejam atentos aqueles se julgam alheios e imunes aos ataques golpistas dentro das universidades. Como se sentiriam ao submeter as ementas de suas disciplinas a pessoas que, fora o poder de polícia, nada tem a contribuir com as questões a serem discutidas?

O golpe avança em passos rápidos rumo ao obscurantismo. Depois de cassar o voto de 54 milhões de brasileiros e brasileiras utilizando-se de subterfúgios, deixa evidente sua face agressora ao colocar o povo do Rio de Janeiro sob a opressão militar. Como se fosse insuficiente demonstrar sua violência sobre a vida das pessoas que somente desejam construir um país justo para viver, acrescenta medidas atentatórias contra a produção do conhecimento, do pensamento e da inteligência humana, ao ameaçar com censura e intimidação a Universidade de Brasília.

O golpe teve início com a judicialização da política, com a decisão autoritária, ilegal e arbitrária de servidores que nunca foram eleitos sobre os destinos de representantes legítimos do povo brasileiro.
Aprofunda-se agora por esta via, em que o ministro ilegítimo busca interferir na liberdade de pensamento da universidade pela força jurídica.
Sem uma reação popular contundente, amanhã as portas das universidades serão novamente arrombadas pelos coturnos militares: como em 29 de agosto de 1968, às vésperas da promulgação do AI-5; como hoje nas comunidades do Rio de Janeiro.

Por reconhecer esse estado de opressão e desmando, este coletivo de trabalhadores manifesta seu mais veemente repúdio à tentativa de proibir o professor Luís Felipe Miguel de ministrar curso que discute o Golpe de 2016. O pesquisador enfrenta a questão, como excelente cientista que é, com argumentos e sem dogmas. Alinha o que há de mais sofisticado no pensamento crítico nacional e internacional. Aliás, há, em outros países, reconhecidos autores e pesquisadores que tratam de estados de exceção, como este em que vivemos na atualidade, sem ter que enfrentar mais que frutíferos debates acadêmicos.

A hora é de solidariedade com a liberdade de pensamento.

Que sejam livres as universidades.

Que nunca mais os coturnos marchem sobre as cabeças de nossos professores e estudantes.

Que seja livre a Universidade de Brasília, patrimônio do povo brasileiro, concebida pelo inesquecível Darcy Ribeiro.

Liberdade de pensamento para o Professor Luís Felipe Miguel!