Debate: a anatomia do golpe e os interesses internacionais, 21 de julho de 2016

Serviço Público pela Democracia

Foto: Serviço Público pela Democracia

Uma anatomia do golpe por Tereza Cruvinel e José Geraldo de Sousa Júnior

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Tereza Cruvinel. Foto: Serviço Público pela Democracia.

“O golpe em curso no Brasil não é apenas uma disputa de poder doméstico. A realidade está mostrando que, este golpe, com sua natureza peculiar, é resultado de articulações que conjugam interesses nacionais e internacionais”, afirmou a jornalista Tereza Cruvinel, uma das debatedoras da noite desta quinta-feira (21) no debate “A anatomia do golpe e os interesses internacionais”, promovido pela Frente Ampla de Trabalhadoras/es do Serviço Público pela Democracia, no auditório do Sindsep-DF, em Brasília.

O professor de Direito da UnB, José Geraldo de Sousa Júnior, outro debatedor da noite, concordou com a afirmação da jornalista e mencionou a articulação de institutos para dar base e validação às ações que favoreceram o golpe. “Há agentes envolvidos no processo que mostram como interesses econômicos criaram política e financeiramente as condições para dar base ao processo do golpe”. Como exemplos, citou o Instituto Millenium, o Fórum pela Liberdade, e o Movimento Brasil Livre, comparando seu papel ideológico ao desempenhado no golpe de 1964 pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática – Ibad, o antigo Estudantes pela Liberdade. Porém, para o professor “a questão política não é local. Há sempre interesses envolvidos. E seria até ingenuidade se potências que financiam o modelo de acumulação deixassem os BRICSs se fortalecerem. Para os que têm como pátria o capital, só tem cidadania na sua propriedade”, afirmou.

Já Cruvinel identifica o surgimento da agenda do impeachment já no dia seguinte à vitória da presidenta Dilma Rousseff, em 2014. “O senador Aécio Neves disse, após a vitória da presidenta no segundo turno: ‘Ela não governará’. Tem isso registrado, foi noticiado. Então, não foi uma revelação que desencadeou todo o processo, pelo contrário: primeiro teve ‘jura’ de impeachment, depois que se vai procurar o que tem sentido jurídico”, apresentou a debatedora, que lembrou ainda que foram rejeitados pela Câmara 14 pedidos, por sua baixa qualidade argumentativa: “até chegar o pedido de Janaína Paschoal, que recebeu 45 mil do PSDB para elaborar o pedido. Aí, o impeachment passou a ter uma fachada jurídica justificável”.

Desmonte da política externa

Para os debatedores, interesses internacionais permearam a construção do golpe, e isso é visível na política externa adotada pelo ministro das Relações Exteriores do governo interino, José Serra. “Ele está atacando o Mercosul, a Unasul, está havendo um verdadeiro desmonte da política externa brasileira, desprezando acordos bilaterais, e jogando para que seja aprovado no Congresso Nacional a mudança na lei do pré-sal, uma das prioridades do governo Temer”, afirmou Tereza Cruvinel.

Meios de Comunicação

Também foi mencionada no debate a relação da mídia com o golpe. “Os meios de comunicação  brasileiros estiveram descaradamente incorporados neste processo”, disse José Geraldo. Tal papel é considerado evidente por Cruvinel: “Este golpe não foi em dois meses. É de mais tempo. E a mídia ajudou a construir um pensamento propício, construiu narrativa, colaborou com o golpe”.

Serviço Público pela Democracia

José Geraldo de Sousa Júnior. Foto: Serviço Público pela Democracia.

O professor da Universidade de Brasília destacou o grande número de ações espontâneas que vêm surgindo contra o golpe – como a própria Frente Ampla do Serviço Público pela Democracia. Estes grupos somaram-se aos meios de comunicação alternativa já existentes e acabaram por firmar internacionalmente a ideia de que há um golpe de estado em curso no Brasil. “Eles se articulam num espaço midiático, alternativo, ampliativo, esperançoso” que criou também um desconforto público permanente dos políticos participantes do golpe. Se por um lado não há garantias no campo da disputa política, “podemos apostar na mobilização que transforma nossa ação política numa vitória em relação à criminalização” dos movimentos de resistência, que podem ser construídos com esperança em sua capacidade de transformação.

José Geraldo de Sousa Júnior conclui lançando um desafio: “a criação de uma frente sindical para a construção de uma mídia alternativa progressista” capaz de opor-se à hegemonia dos grandes meios.

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DEBATE
A anatomia do golpe e os interesses internacionais

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TEREZA CRUVINEL
Jornalista, ex-presidente da EBC.

JOSÉ GERALDO DE SOUSA JUNIOR
Professor, Faculdade de Direito da UnB.

quinta, 21/7, 18h30.
Local: Sindsep-DF – Auditório.
Setor Bancário Sul, quadra 1, bloco K, 17º andar.
Ed. Seguradoras.

Como se articulam os interesses internos e externos que atuam na construção do golpe em curso? Disputa do pré-sal, reversão do multilateralismo e mudança nos alinhamentos internacionais: o que está em jogo?

Veja o vídeo do debate na página da Mídia Ninja.

Veja o vídeo do debate na fanpage do Alerta Social.

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Realização:
Frente Ampla de Trabalhadoras e trabalhadores do Serviço Público pela Democracia

Apoio:
Sindsep-DF
Alerta Social

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Fotos do debate