Não está tudo bem.

Este texto foi escrito por haver um estranhamento à aparente falta de indignação, discussão e ação em relação ao que está se passando no governo federal.
Afinal:

Ninguém está indignado com a ficha corrida dos ministros nomeados pelo governo interino?

Michel Temer prometeu uma equipe de notáveis, mas entregou um ministério sem mulheres, sem negros e repleto de políticos investigados por corrupção, desvio de verbas e citações na Operação Lava Jato. Conheça os 23 nomeados por Temer…[1]

E com o enfraquecimento da Controladoria Geral da União (CGU), que perde poder de intervir nas irregularidades que identificar nos ministérios? (Que combate à corrupção é esse?)

Sindicato divulga nota pública contra a extinção da CGU – para entidade, alteração ameaça independência do órgão e pode ter graves desdobramentos no futuro, a exemplo das comuns fusões e incorporações entre ministérios.[2]

E com o desmonte do SUS (inclusive eliminando exigência constitucional de um mínimo de investimento em saúde pública) e a defesa dos planos de saúde como alternativa para a população?

Quanto mais gente puder ter planos, melhor, porque vai ter atendimento patrocinado por eles mesmos, o que alivia o custo do governo em sustentar essa questão.[3]

A PEC 143/2015 [Proposta de Emenda à Constituição] foi apresentada inicialmente pelo senador Dalirio Beber (PSDB-SC). Posteriormente foi acolhido o substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB -RR), que será analisado no plenário em segundo turno. A PEC permite aos estados, Distrito Federal e municípios aplicarem em outras despesas 25% dos recursos hoje atrelados a áreas específicas, como saúde, tecnologia e pesquisa, entre outras.[4]

[Romero Jucá é o ministro do Planejamento do governo interino e também autor do PLS nº 654/2015 (Projeto de Lei do Senado), que cria o “fast track” para o licenciamento ambiental, “cortando etapas” e tornando mais rápido (e isso está sendo defendido mesmo depois da tragédia em Mariana/MG]

E o fim do Ministério da Cultura (Minc)? Vamos seguir usufruindo da produção artística estrangeira, de preferência viajando para o exterior para ter uma “experiência mais rica”?

O Ministério da Cultura não é um balcão de negócios”: “As críticas irresponsáveis feitas à Lei Rouanet não levam em consideração que, com os mecanismos por ela criados, as artes regionais floresceram e conquistaram espaços a que antes não tinham acesso.[5]

E com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a submissão da Fundação Cultural Palmares (vinculada ao ex-Ministério da Cultura), que certifica comunidades quilombolas para reconhecer seus direitos, ao partido Democratas (DEM), partido do ministro do governo interino?

É lembrar que desde 2004 o DEM trava uma batalha judicial no Supremo Tribunal Federal para golpear o Decreto 4887/2003. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3239, o partido questiona a constitucionalidade da definição contemporânea de quilombos e de territorialidade partindo de uma mentalidade proprietária do século XIX.[6]

E com as pastas de Direitos Humanos, Mulheres e Igualdade Racial estarem submetidas ao Ministério da Justiça tendo à frente um ex-advogado de Eduardo Cunha e do PCC e ex-Secretário de Segurança Pública de SP famoso pela violência contra estudantes e manifestantes em geral?[7] [8]

Com o novo Gabinete de Segurança Institucional, ao qual está vinculado a ABIN, sendo comandado por general cuja família é toda ligada à tortura e violências similares (avô, pai, tio e ele defendeu o pai e atacou a Comissão Nacional da Verdade)?

O golpismo está no DNA dos Etchgoyen. Depuseram Getúlio, tentaram impedir a posse de JK e aplicaram um golpe contra Jango para liderar a repressão, a tortura e o assassinato. Agora em sua nova versão atual estão trabalhando para que um golpe parlamentar se transforme numa caçada as bruxas, representando novamente os interesses escusos daqueles que pretendem “manter a ordem” contra o povo e a democracia brasileira.[9]

Com a exoneração ilegal do diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), cujo mandato aprovado pelo Conselho Curador da instituição seria de quatro anos? (ele só poderia ter o mandato interrompido se cometesse faltas graves)

No caso da EBC, o legislador teve o cuidado de instituir regras para que a empresa pública de comunicação, criada para desenvolver atividades públicas de comunicação, não se transforme em uma empresa a serviço do mandatário do governo federal. O presidente da República tem o poder de nomear o diretor-presidente da EBC, mas não tem o poder de destituí-lo, antes do término do seu mandato. A destituição somente é possível por grave desrespeito às regras que regem sua função e por deliberação do Conselho Curador, órgão da administração da EBC que conta com representantes do governo e da sociedade civil.[10]

E com a nova “reforma” da Previdência que se avizinha?

Meirelles quer reforma da Previdência pronta em 30 dias e “sem margem para ida e volta”.[11]

Está tudo tranquilo e favorável? Vamos deixar isso continuar e se aprofundar cada vez mais?